terça-feira, 26 de agosto de 2008

Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via - Raimundo Narciso


O LIVRO
Álvaro Cunhal e a dissidência da terceira via - (Ambar Maio 2007)
SEGREDOS DE UMA DISSIDÊNCIA
O operacional da ARA que rompeu com o PCP
(Texto de José Pedro Castanheira)
O livro Álvaro Cunhal e a Dissidência da Terceira Via desvenda alguns dos «segredos» do PCP e em particular de Cunhal: o seu gabinete, o seu salário (igual ao da mulher da limpeza), a sua proximidade e acessibilidade formais — mas também o seu poder absoluto sobre o quotidiano do partido, desde as teses ao congresso, até à vigilância exercida sobre os suspeitos de dissidência. Nele, Raimundo Narciso relata as «conspirações» do grupo dissidente (auto-intitulado «o gabinete de crise»), encorajado pelas reformas de Gorbatchov. Primeiro na sala de convívio da sede, depois num restaurante no bairro de Alvalade, até adoptarem como «quartel-general» a residência de Pina Moura, no Restelo. O grupo é amplo, mas muitos deles acabaram por fazer marcha atrás, como Luís Sá, Vítor Dias, Ruben de Carvalho e outros. O autor não foi um comunista qualquer — o que, só por si, confere uma importância extraordinária ao livro.
O AUTOR
Raimundo Narciso dedicou 25 anos da sua vida ao partido, a cujo Comité Central pertenceu. Os primeiros dez anos viveu-os na clandestinidade, tendo sido o principal operacional da Acção Revolucionária Armada, sobre o qual escreveu ARA - Acção Revolucionária Armada— A História Secreta do Braço Armado do PCP (Dom Quixote). Depois do 25 de Abril, teve «um contacto diário» com Álvaro Cunhal, tendo pertencido, inclusivamente, a um organismo «ad-hoc» que assumiu especiais responsabilidades durante o PREC.
Entre os numerosos companheiros de percurso, Raimundo Narciso destaca a coragem de António Graça, a frontalidade de José Luís Judas, a competência de Barros Moura, o calculismo de Pina Moura. As apreciações mais críticas vão para Carlos Costa, Aboim Inglez (por quem Cunhal nutria uma «daquelas suas tão características e inultrapassáveis embirrações»), José Soeiro, Agostinho Lopes, António Gervásio, Helena Medina. Sobre Carlos Carvalhas paira uma espécie de comiseração. Quanto a Jerónimo de Sousa, é praticamente ignorado, sentindo-se mesmo algum desdém, traduzido na frase assassina: «O PCP de Jerónimo de Sousa, com um comunismo de sociedade recreativa, já não é nada do que era.»Para a história ficam as conversas relatadas com os dois principais dirigentes do partido: Álvaro Cunhal e Octávio Pato. Este é descrito como uma espécie de inquisidor-mor — e que fez jus a esta condição, montando ao autor uma campanha de difamação e perseguição que culminou com uma operação de vigilância pidesca. simplesmente inacreditável. As três conversas com Álvaro Cunhal (ver pré-publicação) são um elemento indispensável para a compreensão da sua personalidade. O livro está recheado de afirmações atribuídas a pessoas não identificadas. Compreende-se até certo ponto — mas não deixa de ser uma debilidade. Pena também que não seja publicada a lista das três centenas de subscritores do documento da Terceira Via, que faz parte dos numerosos anexos.Após o congresso, a ruptura era inevitável. A última gota acabou por ser a tentativa de golpe de Estado em Moscovo, em Agosto de 1991.
EXPRESSO actual - 2007-05-05 (3)

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2 comentários:

Raimundo Narciso disse...

Olá meu caro José obrigado pela promoção.
Cheguei de férias vou ver se encontro teu livro para o ler.

Anónimo disse...

Os partidos políticos mostram a sua verdadeira cara no poder, enfrentando a sua realidade e mostrando se são capazes de impor as suas ideologias às realidades.
Nesse aspecto, o PCP quase não chegou ao poder, excepto, limitadamente, no V. Governo do Vasco Gonçalves.
Mas nos países em que esteve quase um Século ou mais de meio Século, os Partidos Comunistas limitaram-se no Império Colonial Soviético a um capitalismo de Estado do qual resultou a actual coligação ex-KGB-Oligarcas e as mais diversas direitas. Na China, o partido continua a ser o detentor único do poder político, mas transformou aquilo no maior país capitalista do Mundo e no espaço onde se pratica a mais desenfreada exploração dos trabalhadores.
Por isso, tenho do Comunismo a mesma visão que os comunistas têm do Socialismo PS, ou seja, que nem um nem o outro são socialistas, mas o PS tem a vantagem de ser democrático e de chegar ao poder por via eleitoral, mantendo todos os canais de comunicação e debate abertos a toda à sociedade e, particularmente, às oposições.
Jerónimo de Sousa não se queixa, nem tem razões para isso, da comunicação social e de não ser ouvido e retransmitido. Só que as sondagens mostram que as suas palavras não produzem impacto especial. Falta-lhe apresentar alternativas credíveis. Não basta dizer que se quer o bem; é preciso dizer como chegar lá e com que meios.
Saudações do
Jornalblog A Luta